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Alanne França

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onerb: O processo de criação para você é algo complexo e organizado, ou vai tudo no liguei a câmera e gravei?  Alanne: Meu processo de criação é um pouco mais elaborado, todo vídeo meu sempre tem roteiro de no mínimo 3 tópicos e nunca são "simplesmente gravados", dou uma pesquisada antes, pra não falar coisas com coisa, sabe? onerb: Qual a parte mais complicada na realização de um trampo independente, a criação ou a divulgação?  Alanne: A parte mais complicada é que as pessoas ainda enxergam quem trabalha com internet como alguém que "só quer likes", ou que é "fútil", o que torna o trabalho e elaboração dele mais difícil, pelo fato de rolar aquele medinho de ser "mais irrelevante do que já acham que sou". onerb: Se hoje você pudesse escolher uma pessoa para gravar quem seria? Alanne: Com certeza, Nicole Balestro ou Gabi de Pretas . Nicole não é do ramo direto de criação de conteúdo para o Youtube, mas tem uma história d...

Siamese

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onerb: Trabalhar no meio artístico sendo um preto LGBTTQ para você é?  Siamese: É essencial, nos deparamos em uma sociedade cada vez mais se encaminhando ao retrocesso. Me posicionar quanto preto e  LGBTI hoje é fundamental para que outras manas se identifiquem e se sintam livres pra serem quem elas desejam. Não é fácil esse posicionamento no meio da música porque vejo minha arte como ferramenta política e de empoderamento, não faço só pelo entretenimento, e geralmente as pessoas estão acostumadas a escutar coisas genéricas e de pura curtição, sem grande peso nas letras. onerb: Ao entregar um trabalho você sente que recebe do público o que esperava?  Siamese: Quando entrego uma música claro que quero que ela seja ouvida pelo maior número de pessoas, mas eu não me apego a quantidade ou a velocidade que ela vai atingindo o público. Não tem como prever a reação do público isso é muito subjetivo, cada pessoa vai receber o som de uma maneira. Mas nesse 1 an...

Esmeralda: por que não dancei

Quando minha mãe ingressou na universidade por volta de 2013, o curso de Serviço Social nos abriu caminhos, digo ‘nos’ porque eu ajudava em maior parte dos trabalhos acadêmicos e acabava lendo os livros e os filmes que a grade do curso pedia. Entre “Estação Carandiru”(1999), “A tragédia de Eloá: uma sucessão de erros”(2008), me lembro bem de “Esmeralda: por que não dancei” (2000), esse livro mexeu muito comigo, eu nunca tinha visto um livro assim, pelo título pensei que fosse uma dessas histórias sobre alguma bailarina desapontada por não ter participado de um grande espetáculo, mas o ‘dancei’ na verdade se tratava daquela expressão ‘se dar mal’ e nas primeiras páginas já consegui ver cada cena que Esmeralda contava e imaginava o motivo dela não ter dançado. A menina que foi estuprada pelo padrasto durante boa parte da infância e maltratada pela mãe, decide fugir de casa aos 8 anos e nós leitores já podemos imaginar o fim né? Esmolas, roubos, crack, crime, fugas da antiga Febem, esta...

André Lima (Coletivo I AM)

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onerb: Qual processo pra você foi mais complicado se ver um corpo negro ou um corpo LGBTQIA+?  André Lima (Coletivo I AM): Minha maior dificuldade foi comigo mesmo em questão de se reconhecer como um homem negro, por ser um negro de pele clara, o “pardo” ou  “mestiço”,  que são formas de reconhecimento geral pelas pessoas simplesmente por você  ter uma pele negra clara, quando era mais novo  eu nunca sabia o que colocar em documentos e testes, se era, branco, pardo ou negro, e quando eu perguntava para alguém respondiam “pardo”, com o tempo e conhecimento até mesmo pessoal e familiar fui me identificar como negro, como muitos outros negros de pele clara. Mais ainda assim em questão de trabalho é sempre visível o preconceito por ser um homem negro gay. Em parte por ser homossexual minha maior dificuldade foi da tal “aceitação da sociedade”, por ser uma pessoa totalmente reservada eu levava muito em consideração a aceitação dos outos e ficava pensando “s...

A estética da favela causa incômodo até demais

Começo esse texto dizendo que não sou especializada em moda, eu mal conheço a definição exata do termo mas o que vamos falar tem e não tem a ver com moda ao mesmo tempo. A questão é que a representatividade apesar de muito ampla é também muito individual, aprendi com o Coletivo Abebé em uma palestra na Redbull Station que também devemos ser protagonistas da representatividade que tanto queremos, a revolução estética tem sido muito presente dentro dos movimentos sociais, feministas, dentro do próprio movimento negro mas apesar de tudo isso as pessoas não se sentem contempladas por nenhum daqueles discursos, corpos e estilos. Eu penso diretamente na população jovem periférica com um recorte ainda maior, a população funkeira mesmo, todos os dias na vida, eles saem com seus cortes "chaves", calças de tactel, seguido de camisetas de time ou de grifes conhecidas pelas quebradas, os tênis sempre específicos, mizuno, puma disk, spring blade, nike shox, 12 molas e não estou estere...

Ylá

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onerb: Qual foi seu primeiro contato com a música?  Ylá Borges: Bom, meu primeiro contato com a música que eu me lembre, aconteceu na minha formatura, de alfabetização, quando eu era menor, eu fui oradora e pediram pra mim cantar, depois de fazer o juramento, eu cantei todo mundo gostou e acharam muito fofinho, minha voz fofinha e aí eu acreditei, de fato. E comecei a prestar atenção no que eu cantava, em como minha voz saia, enfim. Foi depois desse episódio que eu comecei a me ligar mais na música.  onerb: Em que momento você se descobriu uma trançadeira, foi por questão financeira ou não?  Ylá: Sobre ser trançadeira, eu comecei a fazer trança porque eu tinha dificuldade de aceitar meu crespo na época. E aí eu fazia trança uma atrás da outra, eu fazia trança e retirava, não olhava o cabelo e quem bancava era meu pai, e aí ele cansou de bancar essas mudanças e disse que se eu quisesse ficar mudando de cabelo todo mês que era pra eu aprender a fazer meu...

O funk está preto de novo

Já dizia Rincon Sapiência se a coisa tá preta a coisa tá boa não é mesmo? Acredito que dos meus 12 até meus 15 anos frequentei assiduamente os bailes (que na época existiam em todo canto), Octalles , Irecê , Campo do Sabão , 50 , Salgueiro , Rua 6 , Vicente e tantos outros, as minas pretas não tinha espaço e nem se tocava no assunto “cabelo natural”, olhando para aquela época acho um discurso IMPOSSÍVEL, o cabelo tinha que ser lisão, preto e na altura do quadril no mínimo, quanto mais embranquecida melhor, qual o melhor troféu para um preto de quebrada se não uma mulher branca do lado? Mas isso é história pra outro dia. Anos se passaram e os bailes cada vez mais oprimidos pelo Estado, lei do silêncio, diversas tentativas políticas de colocar um baile dentro de um local “seguro e fechado” e os poucos que resistiram e resistem me fizeram conhecer um novo lugar, esteticamente falando. Depois de alguns anos longe de baile por diversos motivos e entre eles assegurar minha vid...