O funk está preto de novo


Já dizia Rincon Sapiência se a coisa tá preta a coisa tá boa não é mesmo?

Acredito que dos meus 12 até meus 15 anos frequentei assiduamente os bailes (que na época existiam em todo canto), Octalles, Irecê, Campo do Sabão, 50, Salgueiro, Rua 6, Vicente e tantos outros, as minas pretas não tinha espaço e nem se tocava no assunto “cabelo natural”, olhando para aquela época acho um discurso IMPOSSÍVEL, o cabelo tinha que ser lisão, preto e na altura do quadril no mínimo, quanto mais embranquecida melhor, qual o melhor troféu para um preto de quebrada se não uma mulher branca do lado? Mas isso é história pra outro dia.
Anos se passaram e os bailes cada vez mais oprimidos pelo Estado, lei do silêncio, diversas tentativas políticas de colocar um baile dentro de um local “seguro e fechado” e os poucos que resistiram e resistem me fizeram conhecer um novo lugar, esteticamente falando.

Depois de alguns anos longe de baile por diversos motivos e entre eles assegurar minha vida de várias coisas que estamos sujeitos quando resolvemos CURTIR usufruindo de uma das ÚNICAS formas de lazer que temos na periferia, encontrei um baile tipo black out onde vi tudo preto.

A Av. Fim de Semana já estava com bastante movimento, entre seus becos e vielas encontrei uma galera com os combos na sacola, vodka, uísque e energético era o que dava para bisbilhotar enquanto os meninos me guiavam até chegarmos no rolê, eu fiquei passada com o número de homens e mulheres de trança, black, dread, por um minuto eu fiquei sem reação, estamos finalmente resgatando nosso lugar sendo nós mesmos.

Cochichei com a minha amiga e juntas nos alegramos demais, estamos tomando de volta o que é nosso, o baile nasceu na favela, que é composta majoritariamente por pessoas pretas e foi lindo ver nós sendo nós, jovens que por mais que muitas vezes não participem desse meio de militância já habitam um corpo político. 

O discurso de empoderamento especificamente de pessoas negras alcançou o funk de uma forma tão rápida que quando vi “Preta” do MC Neguinho do Kaxeta com uma protagonista negra e gorda não tive palavras e assim como ele vários outros MCs abraçaram essa ideia, o que particularmente tem me feito muito feliz.

O papel imprescindível do NGKS, grupo composto por dançarinos, mc’s e produtores majoritariamente negros e o que o “passinho dos malokas” também trouxe de volta pro funk é de encher os olhos, não existe um lugar que você não encontre a molecada com o mesmo corte que eles e mandando o passinho, dentro das Fábricas de Cultura, em especial da do Jardim São Luiz existe uma batalha organizada de passinhos que é nitidamente influenciada também por eles, eles entraram pra Kondzilla recentemente e posso ver mais dos meus protagonizando um gênero que é NOSSO, nada paga a felicidade que é ver os jovens de quebrada se achando lindos de novo ou talvez pela primeira vez.

Confiram “Respeita Nóis”.



Por: Amanda Porto 

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