A estética da favela causa incômodo até demais

Começo esse texto dizendo que não sou especializada em moda, eu mal conheço a definição exata do termo mas o que vamos falar tem e não tem a ver com moda ao mesmo tempo.

A questão é que a representatividade apesar de muito ampla é também muito individual, aprendi com o Coletivo Abebé em uma palestra na Redbull Station que também devemos ser protagonistas da representatividade que tanto queremos, a revolução estética tem sido muito presente dentro dos movimentos sociais, feministas, dentro do próprio movimento negro mas apesar de tudo isso as pessoas não se sentem contempladas por nenhum daqueles discursos, corpos e estilos.

Eu penso diretamente na população jovem periférica com um recorte ainda maior, a população funkeira mesmo, todos os dias na vida, eles saem com seus cortes "chaves", calças de tactel, seguido de camisetas de time ou de grifes conhecidas pelas quebradas, os tênis sempre específicos, mizuno, puma disk, spring blade, nike shox, 12 molas e não estou estereotipando, eles seguem uma moda, essa moda citada anteriormente.

Por muitas vezes esquecemos dos nossos iguais que continuam dentro da quebrada, que continuam correndo atrás da manifestação cultural que é o baile, quando nós gritamos que vamos ocupar o centro me soa um pouco engraçado e bem mais confortável porque mesmo com a repressão o chicote não estrala tanto lá, porque não ocupamos as nossas quebradas, alias porque não as incluimos nas pautas de moda, representatividade e todas essas temáticas que constantemente discutimos dentro de coletivos?

A moda deles causa impacto todo dia mesmo não sendo o abraço de Virgil Abloh e Kanye West abraçados no desfile da Louis Vuitton na Semana de moda em Paris, vocês sabem que do que eu to falando né? Colar nesses panos em diversos bairros nobres mesmo que seja de passagem faz com que você não se sinta pertencente de lá e fazem questão de fazer com que você se sinta assim, eles ressaltam isso com olhares, com uma segurada firme na bolsa com aquela travessia que não fazia sentido do nada.

No final de tudo eu só queria lembrar que a representatividade ainda não é ampla o suficiente, nem dentro dos movimentos militantes, então, seja você a representatividade que você espera nos outros, talvez alguém esteja esperando isso para então se "libertar", seja como você é mesmo que não enxergue seus iguais, não tenha medo de colar nas rodas de debates e se posicionar sobre a sua realidade é importantíssimo e enriquecedor ouvir a todos, estamos nos esquecendo de onde viemos com essa meta de para onde vamos, precisamos pisar no freio às vezes e entender se já não estamos gritando com as paredes pelo centro enquanto nosso vizinho tá carente de trocar saberes.

Por: Amanda Porto

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