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Ylá

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onerb: Qual foi seu primeiro contato com a música?  Ylá Borges: Bom, meu primeiro contato com a música que eu me lembre, aconteceu na minha formatura, de alfabetização, quando eu era menor, eu fui oradora e pediram pra mim cantar, depois de fazer o juramento, eu cantei todo mundo gostou e acharam muito fofinho, minha voz fofinha e aí eu acreditei, de fato. E comecei a prestar atenção no que eu cantava, em como minha voz saia, enfim. Foi depois desse episódio que eu comecei a me ligar mais na música.  onerb: Em que momento você se descobriu uma trançadeira, foi por questão financeira ou não?  Ylá: Sobre ser trançadeira, eu comecei a fazer trança porque eu tinha dificuldade de aceitar meu crespo na época. E aí eu fazia trança uma atrás da outra, eu fazia trança e retirava, não olhava o cabelo e quem bancava era meu pai, e aí ele cansou de bancar essas mudanças e disse que se eu quisesse ficar mudando de cabelo todo mês que era pra eu aprender a fazer meu...

O funk está preto de novo

Já dizia Rincon Sapiência se a coisa tá preta a coisa tá boa não é mesmo? Acredito que dos meus 12 até meus 15 anos frequentei assiduamente os bailes (que na época existiam em todo canto), Octalles , Irecê , Campo do Sabão , 50 , Salgueiro , Rua 6 , Vicente e tantos outros, as minas pretas não tinha espaço e nem se tocava no assunto “cabelo natural”, olhando para aquela época acho um discurso IMPOSSÍVEL, o cabelo tinha que ser lisão, preto e na altura do quadril no mínimo, quanto mais embranquecida melhor, qual o melhor troféu para um preto de quebrada se não uma mulher branca do lado? Mas isso é história pra outro dia. Anos se passaram e os bailes cada vez mais oprimidos pelo Estado, lei do silêncio, diversas tentativas políticas de colocar um baile dentro de um local “seguro e fechado” e os poucos que resistiram e resistem me fizeram conhecer um novo lugar, esteticamente falando. Depois de alguns anos longe de baile por diversos motivos e entre eles assegurar minha vid...

Quebrada Queer

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onerb: Qual a perspectiva do Quebrada Queer em relação aos espaços de rap e LGBT e como vocês visam juntar os dois tanto pro meio LGBT de levar o rap, quanto pro meio do rap de levar as(os) LGBT's?  Quebrada Queer (Guigo): A gente nunca teve uma perspectiva na música e nos últimos anos tivemos que desbravar esses espaços onde nem a nossa música (rap) tinha espaço no cenário LGBTQ e nem a nossa existência (Gays) tinha legitimidade no universo do rap. Acontece que de alguma forma a gente criou esse espaço de sobrevivência e descobrimos que ele não deveria ser solitário, afinal de contas existem diversos artistas QUEERS resistindo e desbravando espaços onde a gente ainda não pode alcançar. Eu quero dizer, estamos hoje em um dos principais canais de rap no Brasil (RAPBOX), apresentando um som que traz 5 experiências diferentes do universo LGBTQ, pra um público majoritariamente masculino, e fizemos isso com muito profissionalismo e coragem, sabe, isso nunca aconteceu, nunca ho...

Não se esqueçam de Marco Aurélio Silva da Rosa

Talvez você não a conheça por esse nome, mas você sabe quem é. Filha de Maria Alice da Silva, de 73 anos e muito a frente do seu tempo. Nascida em São Paulo, mas conhecida nacionalmente através do funk carioca, participou dos principais programas de entretenimento da televisão brasileira e teve um hit estourado nas rádios em 2003. Preta, favelada e travesti massacrada pela transfobia dentro de casa durante sua infância e adolescência e pelo mundo desde o dia que nasceu até o dia do seu óbito, fora dos palcos à mãe afirma que ela era diferente, triste e solitária. Em fevereiro de 2003 no auge do seu sucesso sua aparição no programa Domingo Legal rendeu 20 pontos de audiência, mesmo tão reconhecida, ainda foi chamada no masculino pelos principais meios de comunicação na época de seu óbito em 2011. Marco Aurélio era Lacraia, era ela, era dançarina de funk, MC, DJ e travesti.  Em 2018 tivemos Matheusa, sua matéria no fantástico ia bem, sentada na sala com minha vó assist...

Às vezes você só precisa de uma boa música nos fones de ouvido.

Tem dias que o caos interior transborda e tudo se torna um novo motivo para mais problemas, você sai de casa sem guarda-chuva e começa garoar, pega o ônibus atrasado e tem um trânsito infernal em seu caminho, você tenta não chorar porque isso já é motivo suficiente para declararmos um “péssimo dia”, pega o livro, lê duas páginas ou três páginas e fecha, olha ao seu redor e está parado no mesmo lugar, tem pessoas falando alto e você tem tantas vozes internas gritando que já não aguenta mais um ‘a’ da Dona Ana falando como a patroa dela é ou aquela DR por telefone que um rapaz está tendo no banco atrás de você. Mexe na bolsa e acha seu fone, procura alguma dessas playlists de paz (se você não tem, faça) e é sobre isso esse texto, sobre a paz que encontramos nas músicas, você dá o play e parece que as coisas vão se acertando. A minha música nacional favorita é “Banho de Folhas” da Luedji Luna, é uma música cheia de referências sobre espiritualidade e que definitivamente me deixa leve...

Nola Darling é a artista independente que você não fortalece!

A série “Ela quer tudo” lançada em 2017 aborda diversas temáticas mas hoje não quero falar do feminismo de Nola, ou de seus namorados, do poliamor ou sua sexualidade, nada disso. Vamos falar sobre a arte de Nola Darling. Talvez esse texto tenha alguns spoilers, esteja atento ou feche esse texto. Nola é uma mulher negra que mora no Brooklyn, uma artista independente que faz de tudo para que sua arte seja valorizada e que ela pague no mínimo o aluguel de sua casa, entre tantos capítulos que mostram a vida de Nola Darling algo me chamou atenção, uma mulher negra da periferia, dando espaço pra sua arte e tentando viver dela. No decorrer dos 10 episódios algo me tocava e uma analise foi feita, onde estão os apoiadores reais da arte de Nola? Além dos pais dela, é claro. Fazendo um paralelo com a situação dos artistas independentes fora da ficção, meu primeiro texto aqui na onerb (que é uma plataforma que tem mostrado artistas independentes) vem trazendo um questionamento pes...

Alice Guél

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onerb: Qual a parte mais complicada em produzir arte? Alice Guél: Tipo, eu sou travesti, preta e do interior e é bem complicado, porque realidades como a minha são excluídas dos espaços (quando se tem), onde possamos ter contato e viver a arte. Eu tive a oportunidade a me expressar desde pequena graças a minha mãe que procurava sempre me colocar em coisas que eu pudesse me distrair, fiz algumas danças e teatro.  A arte não é acessível! Nós travestigeneras se quisermos produzir um conteúdo artístico vamos ter que lutar 70% a mais que as pessoas cisgeneras lutariam, demora pra galera ter credibilidade no seu trampo. onerb: Qual a mensagem que você quer mostrar com seu trampo? Alice Guél: Quero mostra o grito de resistência, falar as verdades não ditas sobre os corpos marginais.  onerb: Você já pensou em desistir de levar sua mensagem? Alice Guél: Em desistir total não. Confesso que muitas vezes sou bem pessimista com as coisas, mas nunca AUTO DES...