Sadguel


onerb: Pra você qual a importância dos seus trabalhos e de ter você realizando isso, enquanto uma pessoa preta LGBTQIA+?

Sadguel: A maior importância de ter pessoas pretas transvestigêneres trabalhando não só na arte, mas onde quisermos, é a questão da representatividade dos nossos corpos e semelhantes em um espaço que não nos foi dado, mas que juntas e organizadas estamos ocupando e hackeando todos os lugares para que assim possamos contar a nossa história com nossas próprias palavras.


onerb: Você já realizou vários trabalhos, você consegue escolher um como o mais importante para você, se sim, qual? 


Sadguel: Eu não seria capaz de escolher um trabalho como meu predileto, pois, uma mãe nunca ama mais um filho que o outro, cada um acaba sendo especial em sua particularidade. Aprendi muito em cada projeto que participei e tive a oportunidade de mostrar minha arte e retratar meus devaneios com a moda.


onerb: Qual a maior dificuldade que você enfrenta enquanto um Stylist, Produtor de Moda?


Sadguel: Para um negro enfrentar as estatísticas, preconceitos, um mercado de trabalho excludente e falta de oportunidades educacionais com certeza formam o pódio das maiores dificuldades que eu enfrento no ramo da arte, mas que outros negros enfrentam em qualquer outro ramo onde deseja atuar.


onerb: Um sonho já realizado e um que deseja realizar? 


Sadguel: Com três casas em peixes, sou a pessoa que adora sonhar e sim eu sonho muito alto. Um sonho de criança viada já realizado é me sentir confortável para habitar e dar vida ao meu corpo sem me sentir culpado ou errado por isso e o sonho que ainda pretendo realizar é me tornar referência no cenário da moda e arte brasileira.


onerb: Qual o processo para você foi mais difícil, se ver e entender o que é ser negro ou LGBTQIA+ no Brasil? 


SadguelSer negro no Brasil continua sendo um desafio, pois, ainda existem muitos resquícios de uma sociedade que se formou e se organizou montada na escravidão dos nossos corpos. O negro nesse país é estigmatizado, excluído, assassinado, desvalorizado, objetificado, sexualizado e apagado dos espaços de poder e quando se trata de um negro LGBTQIA+ a exclusão é dupla e se for afeminado acaba sendo tripla. Em um país onde a cada 19 horas uma de nós é assassinada e sabemos que quando falamos de corpos negros as estatísticas só aumentam, sobreviver acaba sendo uma luta dupla/tripla, cansativa e diária, sendo assim fica impossível decidir se é pior ser negro ou LGBTQIA+ no Brasil.


onerb: Quais as suas fontes de inspirações no âmbito de criação dos seus trabalhos e quais as que te inspiram enquanto pessoa, você acredita que elas se unem para gerar uma coisa só ou você consegue separar? 


Sadguel: Meu processo criativo começa a partir de pesquisas constantes de moda, tendência, futurismo e comportamento, mas minhas maiores inspirações vêm das ruas, em especial as quebradas, pois, para mim, existe um romance em levar para o universo fashion e lúdico determinadas situações do cotidiano e personagens que temos que inventar para existir e resistir vivendo nos nossos corpos excluídos. Em suma, esses dois fatores se unem e o resultado de tudo isso acaba sendo um devaneio com a moda em forma de artivismo.


onerb: Inspire um(a) preto(a) LGBTQIA+ a começar um trabalho com uma mensagem sobre coragem.


Sadguel: Irei anexar aqui a descrição de coragem segundo a Wikipédia: "Coragem é a capacidade de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Deve-se notar que coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste…" 

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