Ashley Malia



onerb: Com qual proposito você iniciou seus trabalhos na internet, sente que ainda hoje são os mesmos motivos que te mantém realizando o trabalho como criadora de conteúdo? 

Ashley Malia: Eu comecei meus trabalhos com internet aos 11 anos, nem sabia o que estava fazendo direito, nem tinha dimensão do que era blog, internet ou a proporção desse nicho futuramente, só curtia muito escrever sobre as coisas que eu gostava. Meu primeiro blog foi sobre cultura pop, depois tive outros sobre cultura Geek e alguns pessoais. Sempre excluía e criava outros blogs e nunca entendia o porquê, só depois percebi que era o meu amadurecimento, eu já não gostava ou concordava com os conteúdos antigos, então criava tudo de novo, do zero. 
Os motivos que me mantém hoje são completamente diferentes e estão inteiramente ligados à minha construção de identidade enquanto mulher negra. Hoje eu percebo a potência que é ter uma voz, antes silenciada, produzindo novas narrativas e contra-narrativas ao racismo. Meu motivo para continuar é poder falar sobre minhas vivências, sobre minha realidade e mostrar para outras meninas que elas também podem. 

onerb: Qual a importância que a sua família da ao seu trabalho?

Ashley: No início ninguém se importava, porque ninguém sabia direito o que era. Agora tudo isso se popularizou muito, todo mundo sabe o que é uma blogueira e, apesar de vivermos um momento onde o trabalho com blogs e internet é muito desvalorizado e criticado, minha família dá certa importância por saber que eu discuto temas importantes e sociais. Minha mãe sempre compartilha minhas publicações no Facebook e às vezes até conversa comigo sobre algum tema que eu abordei. 

onerb: Como foi o processo de se ver e se entender uma mulher negra no Brasil? 

Ashley: Ainda é um processo. Todos os dias eu descubro algo novo sobre o que é ser mulher negra, estou eternamente em construção. Mas tudo começou com a universidade, a transição capilar, a influência de youtubers negras como Nátaly Neri e Ana Paula Xongani. Essas vozes foram, e ainda são, muito importantes na minha construção, pois são temas debatidos de forma muito acessível. Eu gosto da didática da Nátaly, do dinamismo da Xongani, tudo isso me fez aprender muito mais do que nos livros teóricos, pois era inacessível para mim e me trazia o sentimento de pertencimento, a sensação de "elas são iguais a mim". 

onerb: Um sonho "impossível" que você realizou?

Ashley: Pra mim, até então, nada é impossível, mas concluir uma graduação foi um passo bem importante na minha trajetória e na história da minha família. Fui a primeira em muitas coisas. 

onerb: Quais as principais dificuldades que você enfrenta para realizar a produção de um conteúdo independente?

Ashley: Visibilidade. É sempre a questão que gira em torno do trabalho de produtores de conteúdo e influenciadores negros. Nossos conteúdos tem menos alcance, as pessoas acham que só negros podem falar e consumir conteúdos antirracistas. Sem falar no julgamento, na restrição de lugares... acham também que não podemos falar de moda, entretenimento e afins, nos colocam apenas no lugar de quem fala sobre racismo, é complicado. E, por fim, recursos. É difícil uma boa câmera, um tripé, uma iluminação boa, coisas que são básicas e muito fáceis para pessoas que produzem conteúdo com algum tipo de apoio. Mas aos poucos a gente chega lá e eu precisei quebrar muito a cara para aprender a fazer com o que tenho e é assim que vou seguindo. 

onerb: Se você tivesse a oportunidade de trabalhar com alguém que admira em qualquer ramo profissional, quem seria e qual seria o trabalho desenvolvido?

Ashley: Bem difícil escolher uma pessoa só, pois são muitas as que me inspiram. Mas fico feliz por já ter vivido essa experiência! Trabalhei por quase dois anos com a jornalista Donminique Azevedo. Mulher negra, jornalista, engajada e muitas coisas que me fazem admirá-la pra caramba. Uma das minhas maiores referências na área do jornalismo, na vivência de mulher preta... tudo. Fora isso, fico pensando em, sei lá, trabalhar com Nátaly Neri em alguma pesquisa, seria incrível e muito produtivo. 

onerb: Inspire uma preta a iniciar seu projeto independente com uma mensagem sobre coragem.

Ashley: O primeiro passo é começar. Não adianta pensar "não tenho isso ou aquilo", faça com o que você tem, grandes youtubers começaram com a câmera do celular. Nossa maior potência é a nossa voz, temos muito pra falar e muito para ouvir. Independente de qual área seja o projeto que você tem em mente, comece, vai lá e faça, crie seu espaço. Temos uma grande aliada (que às vezes parece inimiga) que é a internet, ela permitiu que pessoas silenciadas pudessem ter voz, que profissionais invisibilizados pudessem crescer com o seu trabalho. Tem espaço pra todo mundo, é só ir com o coração e uma pitada de criatividade, força de vontade e muita coragem para meter as caras. 

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