Lucas Hawkin


onerb: Em que momento a arte entrou na sua vida? 

Lucas Hawkin: Posso dizer que a arte se faz presente desde a minha infância, com 2 anos eu tive meu primeiro microfone de brinquedo e vivia cantando pelos cantos. Mas foi aos meus 15 anos que tive uma vivência mais íntima com a arte, conheci o Palco Elite, um projeto teatral do colégio no qual estudei no meu ensino médio. Onde tivemos que montar cenário, escrever roteiros, fazer figurinos e atuar. Eu como sempre tive muita vergonha, até que alguém teve que “abrir o espetáculo” e eu disse que poderia cantar. Cantei junto com a minha melhor amiga Marianna (Stay e Hate That I Love YouRihanna”). Foi ai que o coração gelou e a garganta esquentou. Era como se eu olhasse o mundo pela primeira vez e o mundo me olhasse de volta. Foi incrível cantar para mais de 500 pessoas e no teatro do grande Miguel Falabella.


onerb: Qual processo de descoberta e aceitação para você foi mais difícil, se ver LGBTTQ ou negro? 

Lucas: Digamos que os dois processos foram difíceis e ainda permanece. Estudei em escola pública a minha infância toda e as zoações eram comuns para aquela idade e tudo soava de forma muito normal entre os praticantes e os que eram alvos. Naquela idade encarar o racismo enraizado e praticado por muitos de nós negros durante a infância era apenas “uma brincadeira”, tudo muito inocente. Aos meus 16 anos ganhei uma bolsa de estudos para cursar o ensino médio no colégio privado Sistema Elite de Ensino, foi neste momento que me vi NEGRO, o momento em que você entra em sala e 95% da turma é branca e 3 alunos (contando comigo) eram negros. Onde começam a te chamar de Pelé, e tudo é motivo de piada. Lembro-me de quando coloquei dreads e fui chamado de avatar e isso tudo era torturante pra um jovem de 16 anos. Me assumi gay aos 19 anos e em rede nacional (X-Factor Brasil), não precisei dizer ao Brasil o que já era nítido, mas em casa foi algo aterrorizante para os meus pais, pois eu era o “Precioso” o queridinho, até me assumir. Minha relação com meu pai não é mais a mesma, e pra minha mãe foi difícil ainda mais porque o meu irmão do meio também é gay, mas ele já se posicionava desde a infância, e meu pai sempre foi muito agressivo com ele e eu sempre o enfrentei por isso. Meu pai dizia antes de nascermos: “Prefiro ter filho bandido, do que filho viado” e isso foi falado até nossa adolescência, o que me machuca até hoje. Minha mãe aprendeu a lidar e hoje é a melhor amiga que eu tenho. Esses dois processos ainda vivenciam constante luta e resistência, mas jamais desistirei de mim e dos meus. 


onerb: Como foi para você participar de um reality show? Você acredita ser um lugar de possibilidades para não vencedores do programa? 

Lucas: Bee!! Participar do X-Factor Brasil foi incrível. Aprendi muito com cada participante e com o Di Ferrero, uma experiência única. E sim, é uma grande oportunidade, para todos e para os que deixam o programa ao decorrer, ganham visibilidade, reconhecimento e inclusive trabalhos fora do programa. É um passo para o sucesso, e início de um trabalho duro em sua carreira. É claro que para alguns é frustrante, mas não se dão conta do quão vitoriosos são. Passei por 36 mil pessoas no 1º dia de audições, já no 2º foram 6 mil, depois 300, 100 participantes, até que cheguei ao TOP 15 do grupo dos homens e fui eliminado antes da fase das cadeiras. Olha quanta coisa enfrentei, como não me sentir vitorioso? Foi um sonho e sou muito grato por tudo que veio em seguida.


onerb: O que podemos esperar dos seus novos trabalhos? 

Lucas: Ah, muitos hits e música de qualidade. Estou preparando o lançamento do meu single e logo menos meu EP estará pronto. Muito closy e dar uma lição para aqueles que um dia tentaram brincar com o meu coração.


onerb: Quais são as suas maiores referências desde estilo musical à moda?

Lucas: Musicalmente minhas referências são: Whitney Houston, Michael Jackson, Beyoncé, Rihanna, Ariana Grande, Bruno Mars, Amy Winehouse, Baco, Djonga, Iza, Karol Conka, Djavan, Ed Motta, aaa são muitos!!! 
No mundo da moda eu fascinado pela ‘Casa de Criadores’ e Laboratório Fantasma que além de selo/gravadora tem sua própria linha de roupas e fizeram um desfile incrível da coleção Avuá na SPFW44. O incrível Dudu Bertholini é um cara que eu admiro demais, sua história, suas criações! Vocês precisam conhecer um pouco mais sobre a carreira dele. Confesso que o amor pela moda chegou quando assisti pela primeira vez o filme “ O Diabo Veste Prada”  com Anne Hathaway, onde interpreta Andy. Ela se transforma de desajustada à ícone da moda, mostrando que nada é impossível pra quem sonha e tem foco, mesmo com as trincheiras que temos que passar pra chegar aonde se quer. E a moda faz parte de mim, ela diz muito sobre quem sou.


onerb: Quais os principais problemas que um(a) artista/produtor(a) enfrente e podem desestabilizar seus processos de criação? 

Lucas: De certa forma “n” situações podem nos desestabilizar profissionalmente acarretando uma “deficiência” em nosso processo criativo. As vezes a demanda de tempo de algum trabalho que precisa ser entregue e o tempo não é suficiente, mas independente precisa ser entregue. No meu caso, muitos dos meus relacionamentos me tirava o foco do que precisava ser feito. O que é ruim demais, mas hoje aprendi a separar as relações profissionais das interpessoais.


onerb: Inspire LGBTTQ’s pretos(as) que desejam criar e se sentem incapacitados da possibilidade de criação. 



Lucas Hawkin: Sempre acredite nos seus sonhos e deposite todo amor e foco naquilo que acredita. Ser bicha preta requer ser duas vezes melhor, então faça com propriedade e nunca permita que o cis-tema os usem, seja você mesmo. 

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