Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO)


onerb: Qual a parte mais difícil em produzir um trampo independente?

Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO): Creio que a maior dificuldade em produzir algo independente é a faltar de incentivo financeiro, somado aos inúmeros gastos com burocracias pra colocar um produto cultural na rua. Em Salvador, infelizmente, passamos por um período de gentrificação dos espaços de lazer e perseguição aos produtores de eventos independentes.


onerb: Sua família tem uma boa aceitação por você ser lgbttq?

Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO): Hoje em dia, eu tenho total apoio de meus pais e alguns membros da família. Entretanto, outros não aceitaram, principalmente pela maneira que eu me coloca diante da sociedade, fora de um padrão heteronormativo. Mas estou satisfeito com o apoio de mainha e painho, e isso me fortalece para lidar com o preconceito do mundo.

onerb: Você vê possibilidade de apenas viver como um produtor independente?

Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO): Por enquanto, é uma realidade distante para mim. Apesar da ascensão do Coletivo Afrobapho, eu não consigo ainda pagar minhas contas só com eventos. Eu moro de aluguel em Salvador, e os problemas financeiros quase já me fizeram desistir de construir algo por lá e voltar pro interior. Espero que algum dia eu consiga viver estavelmente, para me dedicar muito melhor à produção cultural/artística.

onerb: Qual suas maiores inspirações no meio artístico?

Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO): Eu tenho muitos ídolos e inspirações. Mas creio que Linn da Quebrada seja a maior delas atualmente. Amo também o universo drag. As minhas manas Ah Teodoro e Malayka SN são grandes referências pra mim. Mas o Coletivo Afrobapho é fruto de inspiração no documentário ‘Paris Is Burning’. Então amo LaBeija. Amo as inspirações nacionais, Madame Satã, Vera Verão, Lacraia...

onerb: Quais conquistas você obteve e o que ainda é muito difícil de conseguir?

Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO): Foram tantas conquistas. Mas acho que só o fato das pessoas me respeitaram e me terem como referência de algo é muito gratificante. Acho que o reconhecimento do trabalho e luta é a melhor coisa que podemos ter, junto com o aqué pra viver bem né? Hahaha
Acho a que a luta é contínua. Tem muitos espaços ainda que acho necessário ocupar. Quem sabe ser reconhecido nacionalmente/internacionalmente através do Afrobapho.

onerb: Você já pensou em desistir de levar sua mensagem? Se sim, de onde tirou forçar para continuar?!

Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO): Eu não digo que pensei em desistir de levar minha mensagem, mas já tive momentos em que a minha saúde mental ficou bem debilitada, o que me fez pensar em dar um tempo. Acho que às vezes é necessário se dar esse tempo, em busca de um auto-fortalecimento, para continuar resistindo e construindo trajetórias.


onerb: E chegamos ao fim de mais uma entrevista maravilhosa e o Alan vai deixar uma mensagem pra vocês que desejam começar algum trampo independente e tem aquele medo/receio. Se inspire e SE TORNE ÚNICO, ONERB.


Alan Costa (Coletivo AFROBAFHO): Precisamos acreditar sempre em nós mesmos, apesar dos empecilhos que essa sociedade racista e lgbtfóbica coloca em nossas vidas. É difícil, nem sempre teremos forças pra resistir às dores e problemas, mas é importante nunca deixar de acreditar no nosso potencial. E acreditar em si também é entender a importância do autocuidado, é entender que nem sempre seremos fortes e nem devemos ser. Humanização, é entender que não podemos resolver todas as mazelas do mundo, mas podemos colaborar de uma forma saudável, sem ceder às pressões e cobranças dos outros. 


A juventude negra e LGBT é potente! Eu acredito muito que possamos fazer a diferença a longo prazo.

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