Enme


onerb: Qual a importância da sua arte pra você?

Enme: Eu sempre busquei algo que me identificasse e levei tempo pra achar representações significativas. Buscava muito a cultura de fora, sendo uma criança de favela o acesso ao mundo era um tanto complicado. Então eu resolvi ser minha própria representação, eu resolvi fazer algo que representasse aquilo que eu queria ver, ouvir e consumir desde criança. Pelo visto eu não estava só, existiam outras crianças iguais a mim e eu acabei atendendo o desejo delas com minha arte. Assim elas me escolheram para representá-las também, talvez seja por isso que estou aqui dando essa entrevista. Por causa de pessoas como eu que desejam  uma persona assim para se ver nos meios de destaque.


onerb: Quais os melhores momentos que sua arte te proporcionou?

Enme: Aiiiii são tantos! Conhecer artistas incríveis como Rico Dalasam, Karol Conka, Gloria Groove, Mc Carol, Lia Clark, Pabllo Vittar, Iza. Nomes que importam muito pra mim e já estive no mesmo palco que todas essas. Mas eu acho difícil algo superar a emoção de ver uma praça da minha cidade superlotada no maior festival de música do Maranhão, aguardando pelo show que fiz com minhas parceiras. E eles sabiam a letra da nossa música, eles gritavam e cantavam junto, aquilo foi surreal. Inesquecível!


onerb: Pra você o que o foi mais difícil, se entender como uma pessoa negra ou se aceitar lgbttq? 

Enme: Ambos! O fato de eu, desde criança ter força e língua afiada pra combater racismo me fez entender que eu também precisava dessa força pra buscar respeito e espaço como lgbttq. Foi e está sendo uma batalha muito dura até hoje, principalmente com minha família. Tem melhorado bastante, mas são dias de trégua e dias de guerra. Falando de uma maneira interpessoal eu sempre me amei muito e prezo minha liberdade, então eu sempre fui nesse caminho. Sou assim e sou maravilhosaaaa, então me tratem como mereço!


onerb: Qual a parte mais difícil em produzir trampo independente?

Enme: Caramba, a gente tem uma porrada de ideia foda, mas que barra com os investimentos baixos. Esse é o ponto mais difícil, entregar um trabalho com qualidade impecável, no nível do mercado, alinhado com a mensagem que se quer passar sem muito investimento. Ou zero investimento. As vezes o trampo é foda mas não chega onde deveria chegar por falta de investimento em publicidade ou de ferramentas boas de divulgação. Por sorte temos o publico que abraça e divulga tudo aquilo que acredita.


onerb: O que podemos esperar do seu novo som?!

Enme: Sarrar já foi apresentada uma vez ao vivo. A letra já tava pronta desde o meio do ano passado. Eu buscava uma sonoridade africana, mesclada com funk e recentemente encontrei na internet uma base que trouxe a inspiração. Sentei com o produtor Brunoso, que é o mesmo produtor do primeiro som que lancei, e finalizamos então a base. Foi incrível porque fizemos juntos, dei pitaco do começo ao fim e ele como o gênio que é, fez na melhor. A música tem participação da Butantan, a gente tem uma longa historia. Desde o começo da carreira, sempre a apoiei nesse ramo musical, pois nunca acreditei que eu fosse me botar pra fazer algo do tipo. Eis que agora estamos aqui fazendo algo juntas. E é isso, é funk com rap no beat do trap, tambor de favela invadindo a mente com muita coreografia.


onerb: Quais são suas inspirações no rap?

Enme: Ai com certeza Rincon Sapiência, Dalasam, Gu1hgo. Eu ouço muito rap feminino, tipo Karol Conka, Drik Barbosa, Tassia Reis, Flora Matos. Acho as letras delas um paralelo semelhante a nossa realidade.


onerb: E hoje chegamos ao fim de mais uma entrevista maravilhosa e o Enme vai deixar uma mensagem pra vocês que desejam começar algum trampo independente e tem aquele medo/receio. Se inspire e SE TORNE ÚNICO, ONERB.


Enme: Existe uma certa insegurança, receio, vergonha de dar o primeiro  passo. É bom lembrar que no ponto zero você já está, menos que isso você não vai. Então tudo o que fizer vai gerar algum movimento, o mínimo que pode acontecer é você continuar no ponto zero, então não tem porque ter medo. Comece fazendo por você, deixe que os resultados e as expectativas dos outros sejam consequência de algo que te agrada. E por favor, dê ouvido aos amigos que apoiam teu trabalho. Se nos olhos deles a gente brilha, então já somos uma estrela pra alguém!

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